segunda-feira, 1 de junho de 2009

Belém na Copa... mas que copa, se não temos mais nem árvores?

Já "sentíamos o cheiro da perpétua", como diria um conhecido radialista esportivo de nossa capital. "Belém na Copa 2014", eis mais uma aula do quanto temos uma visão deturpada dos horizontes que nos abarcam.
Por que Belém, ou melhor, o Estado (Província) do (Grão) Pará (que à época ainda tinha o Maranhão) aderiu à independência do Brasil para com a Coroa Portuguesa? Se nos "dávamos bem" com os homens d'Além Mar, então qual o motivo de despachá-los? Mas e os brasileiros, por que queriam nossa emancipação da Metrópole?
Na verdade, tanto portugueses como brasileiros nunca reconheceram estas terras de cá como lugar soberano, como posse das gentes locais com vontades próprias, de desejos mil e de sonhos aos montes. Ao contrário, os sonhos sempre foram dos nossos inquilinos (que não pagavam aluguel, diga-se de passagem), e suas vontades e desejos - por poder e riqueza sobretudo - sempre se impuseram. Espertos foram os descendentes destes, trataram de perpetuar a exploração e a ganância... mas astutos mesmo foram os que viram no conluio com estes a chance de abocanhar seu quinhão. A receita de como se forjaram as elites sócio-econômicas e políticas destas terras de cá, então, foi dada: as proles dos exploradores somada aos colaboracionistas ansiosos por deixar a condição de explorados, afinal, queriam partilhar dos sonhos, desejos e vontades dos primeiros. E assim, o divórcio entre o lugar e suas gentes e os que se interessavam apenas pelo lugar (interesses espúrios, claro) se concretizou... e pro azar delas (na verdade nosso) se perpetuou.
Mas deixemos um pouco a história de tempos passados de lado, e ocupemo-nos, no momento, da chamada História do Tempo Presente (amaaaaargo...).
No entanto, qual o real motivo de ter contado essa "pequena" historinha? Só pra dizer que nada mudou. Pra dizer que nossos governantes, nossas classes políticas e as ricas camadas sociais de nosso Estado continuam fiéis ao tratado, à receita exposta acima, e assim tocam o barco. Seus interesses nunca são os nossos (as gentes), nossos sonhos nunca estiveram em pauta, e nossas vontades dizem, num cinismo retórico, que as "representam". Representar não é fazer valer!
Não perdemos o bonde da Hitória, pelo contrário, estamos num ônibus lotado que há séculos segue o roteiro de "queimar paradas" em alta velocidade, no afã de fazer com que não vejamos o quanto fomos vilipendiados ao longo da viagem.
A estação, o fim da linha onde essa tortuosa viagem poderia acabar localizava-se no kilômetro 2014, logo ali, um pouco além do Entroncamento, embora o ônibus que ocupávamos (e ainda estamos a ocupá-lo) tenha passado rápido pelo Memorial da Cabanagem para não o notarmos e assim não percebermos do que nós (as gentes do lugar) somos capazes. Mas o condutor da vez, ao volante há quatro anos, tratou de nos dissuadir da idéia de pararmos no referido kilômetro. A estação, o fim da linha, segundo ele, "foi inviabilizado". A obra para construção do mesmo estava parada, houve "falta de verbas" (eufemismo puro, houve mesmo desvio dos recuros para a obra). Foi então que uma mente iluminada sugeriu que parássemos na mesma referência, o kilômetro 2014, para nos refrescarmos do calor sufocante que fazia dentro do coletivo, pois neste local, segundo o dito cujo, havia uma árvore frondosa que proporcionava uma boa sombra. E como estávamos há muito tempo sem dar uma paradinha sequer, já havia um clima de desavenças no interior do mesmo. Seria necessário parar, enfim.
Ao chegarmos no dito kilômetro 2014, surpresa! A ávore (ou melhor, parte dela) realmente existia. Finalmente haviamos parado e então pudemos perceber os horizontes que nos cercavam... completamente desolador. Mais desolador ainda foi quando chegamos próximo à árvore. Não tínhamos como nos refrescar! Moral da história: no 2014, devido aos maus tratos de anos a fio, a ávore não tinha "Copa"...

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